📷Tertúlia Portuguesa
Tertúlia Portuguesa
✅1616 | Um assalto da pirataria argelina à ilha de Santa Maria
A pirataria da Barbária tem raízes históricas na conflitualidade religiosa entre cristãos e muçulmanos, mas acentuou-se a partir do século XVI, quando a navegação atlântica se intensificou e se organizaram estruturas de poder que transformaram o corso e a pirataria numa autêntica actividade militar.
A partir de algumas cidades do litoral do norte de África, a pirataria barbaresca que actuava no mar Mediterrâneo passou a intervir também para ocidente do estreito de Gibraltar, dedicando-se a actividades de assalto à navegação cristã e ao saque e rapto de populações, cujo posterior resgate lhes proporcionava grandes lucros.
O poder da pirataria barbaresca estava centrado nas cidades de Tunes, Tripoli e, sobretudo, Argel, mas reforçou-se quando se verificou a expulsão de muitos muçulmanos de Espanha que se estabeleceram em algumas cidades costeiras marroquinas, como Salé, Tetuão e Melilla.
A ilha de Santa Maria foi uma das ilhas atlânticas que foi atacada pela pirataria argelina, porque tinha uma localização periférica e estava mal defendida. A ilha já tinha sido visitada ou assaltada várias vezes por corsários e piratas, nomeadamente por corsários franceses em Agosto de 1576 e por corsários ingleses em 1589, mas o mais grave de todos os assaltos ocorreu em 1616 e foi feito por piratas argelinos.
Ao dirigir-se para os Açores, a pirataria argelina tinha como objectivo inicial o assalto das naus portuguesas que regressavam da Índia, mas não tendo tido sucesso nesse propósito, aproximou-se da ilha de Santa Maria. Nessa altura a ilha não tinha meios de defesa militar e, segundo Frei Diogo das Chagas, em meados do século XVI viviam na ilha 2716 almas maiores e 551 almas menores, distribuídas por cinco freguesias.
Os piratas argelinos desembarcaram e saquearam as habitações, profanaram as igrejas e cometeram muitas outras atrocidades sobre as pessoas e o património. A população não estava organizada e não resistiu aos assaltantes, tendo-se refugiado nos matos e nas rochas, embora muitos viessem a ser capturados e feitos cativos.
No Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, escrito por Frei Diogo das Chagas por volta de 1650, encontra-se uma sucinta descrição do que aconteceu:
"[...] e aonde elles saltarão poucos da terra bastauão, pera os não so defender mas offender. Porem, como era castigo do Ceo, todos se poserão em fogida, pera mattos e rochas e elles ficarão senhores da terra em que estiuerão por tempo de 8 dias, fazendo mesquita, ou açougue da Igreja principal da ditta Villa [do Porto], onde tinham seu corpo da guarda e faziam posta e recolhiam as pessoas que hiam catiuando pellas rochas aonde estauam occultos, que elles seguramente hiam buscar donde leuarão passante de 200 almas, em que entrou muita gente da mais principal da Ilha e dous religiosos nossos [...] que no cabo de dous ou tres annos forão resgatados com alguã da gente que a mais della por la ficou, huns arrenegados, outros em catiueiro."
A permanência dos piratas barbarescos na ilha foi, naturalmente, muito dolorosa para a população mariense, sobretudo pelo elevado número de capturados que foram feitos cativos, verificando-se que “em relação aos cativos de Santa Maria, dos 222 indivíduos capturados, apenas dois terços foram resgatados”.
A ilha de Santa Maria continuou sempre sob a ameaça de estrangeiros e voltou a ser atacada pela pirataria barbaresca em 1676.
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Location | Ponta Delgada - São Miguel |
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