#DICIONÁRIO DA MÚSICA# - UAKTI

Conta a lenda do povo indígena Tukano que Uakti era uma espécie de criatura/ser mitológico que habitava as beiras do Rio Negro. Preciso imaginar esse ser como o monstro do pântano do Alan Moore, mas neste caso, Uakti tinha seu corpo repleto de buracos, como uma peneira. E pelo que conta a lenda mais detalhada, tratava-se de um índio que nasceu diferente dos outros e acabou por se afastar da tribo. Quando este corria pela floresta, o vento ao passar por seu corpo emitia um som único, poderoso, que acabava por atrair as mulheres das aldeias ao redor e estas eram seduzidas pelo ser místico. Os homens das tribos, enciumados mataram o grande ser e o enterraram na floresta. Conta a lenda que de sua cova nasceu um novo tipo de palmeira até então não visto, e essa palmeira ao ser cortada emitia um som único, muito semelhante ao som que Uakti produzia, desde então os indios da tribo utilizavam aquelas palmeiras que ali nasciam para fazer suas flautas.

E partindo dessa lenda que venho contar para vocês um pouco sobre o grupo UAKTI. Que na verdade, dado seu tipo de som, talvez não valha a pena gastar bytes com informações biográficas detalhadas. Melhor seria falar sobre as sensações de ouvir Uakti e sobre a criatividade poderosa que transborda desse conjunto fascinante!

Conheci o grupo por esse álbum que apresento a vocês e que até hoje para mim, é onde mais existe "poder": Águas da Amazônia. Ainda que, este album em especial não seja composição dos próprios membros, mas sim do genial Philip Glass, ele representa perfeitamente o potencial criativo e sonoro do grupo.

Uakti alcança algo de místico, misterioso, sagrado e assustador com seu som, seja pelo projeto (a começar pela própria lenda), seja pela escolha de instrumentos (no caso, quase todos criados manualmente pelos próprios músicos) ou mesmo pelo conjunto da obra, que põe em território brasileiro um dos grupos mais inovadores em termos de musicalidade.

Essa obra em especial, as Águas da Amazônia tem um potencial transcendental quando ouvida completamente, cada faixa do álbum leva o nome de um dos rios da Amazônia, e cada um conta uma "história" em forma de música. Em especial as duas primeiras faixas pra mim são composições acima do nível, como um mantra cósmico unido ao obscuro fundo de um negro rio das entranhas da floresta amazônica.

Deixo aqui para vocês o álbum para que possam ouvir com cuidado e atenção. Se tiver um tempo livre apague a luz, deite-se e ouça no fone de ouvido (ou em um bom som).