Devaneios a respeito do passado

in #pt7 years ago
De uns tempos para cá tenho dado uma atenção especial a uma questão que por muito tempo não me interessou. As minhas raízes. Não sei se isso depende de cada pessoa, mas acredito acima disso, tem a ver com a idade, com a maturidade e a sensação de contemplar a vida por outros olhos.

Tem se tornado frequente pensar em meus ancestrais, seja os mais próximos ou os mais distantes. Me impressiona muito pensar na imigração que formou nossa região. Nos motivos que levaram meus antepassados a saírem de seu país e virem para cá. Sei pouco a respeito, mas o pouco que descobri já foi suficiente para florescer um universo novo em minha mente. Inúmeros fatores formaram a realidade atual.

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Um momento difícil na polônia cercada pelos Prussianos por volta de 1870 levava inúmeras famílias a abrirem mão de suas terras em busca de oportunidades mais justas, em terras mais férteis. Alexandre Nadolny, jovem, talvez 16 ou 17 anos, junto com dois outros irmãos embarcam num dos navios que viria para o Brasil. É contado que Alexandre conheceu sua esposa Maria ali mesmo neste navio, e na solidão de um novo mundo fortaleceram-se juntos para construírem o futuro. Que caminhos e motivos os trouxeram até especificamente São Mateus do Sul, um lugar que praticamente não existia ainda. A cidade na época ainda chamada de Porto de Santa Maria era pouco mais que um ponto de carga e descarga das embarcações e de repouso, épocas certamente incríveis de um mundo que jamais se verá novamente, onde a relação do homem com o ambiente era outra, não melhor ou pior, apenas outra.

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Os alemães que aqui assentaram-se inicialmente em busca de petróleo abriram espaço para um futuro da colônia, ainda minúscula. Em 1890 chegam então os poloneses, talvez vindo de outras colônias, vindo através dos vapores pelo movimentado Rio Iguaçu, "lotes" de polacos sendo deixados em diferentes portos. Não sabe-se detalhes a respeito de Alexandre, apenas que estabeleceu-se na colônia Cachoeira, uma das colônias formadas na região, dado que vieram uma média de 2000 poloneses nessa época para povoar a cidade, dividindo-se em inúmeros grupos, formando assim as bases da cidade e suas colônias.

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Alexandre desenvolveu na região a primeira serraria movida a base de água (provavelmente com uso de rodas d'água) e para a construção desta fez acordo com os colegas polacos para que em troca de ajudarem na construção, poderiam ter suas madeiras cortadas de graça para a construção de suas casas. É sempre bom lembrar que estamos falando de uma época sem luz elétrica, sem água canalizada. Onde os dias eram de serviço incansável, onde você é deixado num porto de terra, num país novo, onde com algumas ferramentas você precisa primeiro fazer uma casa, cortando madeira na mão, toras e mais toras de imensas araucárias, para depois monta-las, construir cômodo por cômodo, noites escuras para descansar os calos nas mãos e acalmar o suor, dias de luta e trabalho e assim a vida foi se formando.

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É incrível pensar quão relativo é o tempo. Que em 1750 já existia movimento e evolução surpreendente em outras partes do Brasil, como Minas Gerais e aqui era apenas floresta fechada, mato, índios, nada, nada mais que isso. E mesmo muitos anos depois, apenas colonos e seus sofridos trabalhos dia após dia. E isso era tudo que precisavam. Viviam da extração de erva mate e de pinheiro.

Mas o mais fascinante é pensar que estou apenas duas gerações de distância deles, Alexandre Nadolny teve alguns filhos, um deles: Silvestre Nadolny, este por sua vez, teve meu avô Boleslau Nadolny. E aqui estou eu. Observando o passado e tentando compreende-lo. Tento fechar os olhos e imaginar quais eram as conversas que se tinha num amanhecer de 1899 num domingo de sol, quando quem sabe descansavam, sentavam-se em frente a varanda e observavam as crianças brincarem na grama alta, ouvindo as cigarras cantando enquanto dividiam o chimarrão.

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Talvez você se pergunte por que estou falando apenas sobre o sobrenome Nadolny sendo que assino como Thomas Blum. O fato é que infelizmente do lado Blum não sei quase nada, e realmente não sei o quanto conseguirei descobrir a respeito. Mas ainda tenho tempo para pesquisar. Espero um dia fazer algo de toda essa informação, quem sabe um livro, um projeto qualquer, até mesmo música. :)


Obrigado por ler!

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Uma música seria bem legal!!! 😉

Seria! Tenho uma ideia em mente, mas concretizar não é fácil.

Boa, @thomashblum! Dizem que precisamos estudar o passado para entender o presente, né? Também gosto muito de descobrir a história da minha família, obrigado por compartilhar a sua ;)

Sim meu amigo, é bem isso mesmo. Valeu, obrigado pelo voto e comentário!

A alguns dias atrás, também quis saber um pouco mais da família do meu avô, até para postar aqui, mas não consegui muitas informações do meu pai, uma pena. E perguntando a ele, lembrou de reativar o perfil dele em um site de árvore genealógica, que é bem bacana.

Legal @lilatertuliano! Esses sites ajudam bastante, até comecei a montar um mas acho que acabarei por fazer a versão manual mesmo por conta!

Post bacana Thomas. Se vc realmente quer continuar a busca de suas raizes te posso dar algumas sugestoes. Assim como vc eu tinha pouca informaçao da minha familia paterna (nao sei se é teu caso), e comecei a obter informaçoes atraves da minha certdidao de nascimento, onde descobri quem eram meus avos, e depois fui aos cartorios da cidade pedir as certidoes de casamneto, nascimento, e obito deles, e descobri onde eles nasceram, se casaram, e onde eles foram enterrados. Depois queria saber quem eram meu bisavòs, fiz a mesma coisa pedi aos cartorios as certidoes dos meu avos, e fiz o mesmo percurso atè chegar no meus tataravos que nasceram na Alemanha (estamos ja falando de quase 200 anos atras). No meio do percurso fui encontrando primos e parentes que nao conhecia, e claro fiz questao de conhecer los. Cada un que conhecia obtia mais informaçoes. Toda essa busca durou mais ou menos 4 anos, e ainda continua, pois recentemente descobri uma prima minha de 5 grau aqui na Italia, pq vivo na mesma regiao que meu bisavo nasceu. Por incrivèl que pareça, sinto que era o sonho de algum antepassado meu voltar pra sua terra de origem, pois eu nem sabia o que era a Italia a 10 anos atras, e larguei tudo no Brasil pra vir morar aqui. Algumas outras sugestoes alem de ir aos cartorios, voce tambem pode ir na curia ou igreja responsavel da regiao onde eles viviam, e decobrir onde eles foram batizados, saber quem foram as testemunhas. etc. A cada coisa nova que descobria da minha familia, me dava um enorme prazer, e essa é a parte mais gostosa da busca, a menos prazerosa é quando vc vai crente q vai encontrar alguma coisa, e nao acha nada. Uma outra sugestao de busca é o site do Museu do imigrante de Sao Paulo que tem a relaçao da maioria dos "vapores" que chegavam no Brasil. Tem tambem os "Mormons" (sede de Sao Paulo) que possuem varias informaçoes de imigrantes em microfilmes. Boa sorte. Ah!... uma outra dica, agora em relaçao ao teu post. Uma sugestao: citar de quem sao as imagens utilizadas no post, sejam elas tuas ou nao, isto te dara mais credibilidade nas suas postagens. Abraços e Steemit on! (;

Muito legal suas dicas lordemau! Tinha uma ideia a respeito desse processo, porém aqui essas documentações são bem caras para retirar, vou precisar me organizar para isso. Mas é um plano ótimo, já a questão da igreja e dos mormons eu não havia pensado, muito interessante! Sem dúvida vale a pena a pesquisa, quem sabe um bom projeto para as férias desse novo ano. Agradeço também a dica a respeito das fontes, na verdade foi desleixo meu, sei que é correto por a referência e acabei não pondo. Nos próximos não deixarei isso acontecer. Valeu!

Quando comecei a pedir as certidoes nos cartorios, e descobri uma tal de "declaraçao de pobreza" que é um direito para quem nao tem condiçoes de pagar, tirei todas certidoes "no vasco". A maioria dos cartorios faz cara feia quando vc diz q vai fazer declaraçao de pobreza, mas è um direito nosso que poucos conhecem. Uma outra dica é pedir as certidoes com "inteiro teor", assim eles te darao uma copia identica a original contendo todas informaçoes. Fui! (;

Bom, já conversamos diversas vezes sobre isso, mas como é mais rico e elucidador ler um texto sobre o mesmo assunto! A gente tem muito mais acesso às impressões da pessoa assim.
Realmente, foi uma vida muito dura e fascina pensar que isso tudo ocorreu há poucas gerações. De onde brotou tudo isso que existe à nossa volta?!
A imigração dos nossos antepassados para cá foi uma verdadeira saga cheia de sofrimento, mortes e dificuldades, porém, também, de alegrias, grandes amores e vida à flor da pele.
O que acha de incluir esse post no SteemWorldMap? Como trata da região, quem sabe alguém não passeia por aí no mapa e encontra esse rico relato?!

Sim amigo, já conversamos bastante. Acabei por não desenvolver o projeto da pesquisa, mas a ideia continua firme na mente. Acho inclusive que poderia dar um post muito mais rico que esse, mas o steemit tem um fator negativo do "escrever rápido pra postar logo". Preciso perder esse hábito, voltar a trabalhar com calma cada palavra e frase, dando a emoção e energia que ela merece. Quanto ao steemit world map, a ideia é boa, mas acho que o post ficou bagunçado e sem muita foto exclusiva. Farei algo mais pensado e daí marco!

Entendo bem o que quer dizer. Não é bem um lugar para nos alongarmos muito por vários fatores.
Gostei bastante do post! Retrata bem esse lado esquecido das dificuldades daqueles que vieram. Mas fica a ideia de incluir algo da imigração no mapa, algo da história.