Fingir estar doente e esconder-se dentro de guarda-roupas
Ocupação Indonésia em Timor-Leste
Cruzamento de Aimarak, Laclúbar
Foi na manhã de um Domingo, eu e a Nélia, uma das minhas irmãs mais novas, carregámos em nossas costas pastas e sacos de milho e batata-doce levando a Alícia, a Dirse e o José Lourenço à estação do cruzamento de Aimarak, em Laclúbar. Os três decidiram realizar uma viagem planeada a Manatuto vila.
Após ter chegado no cruzamento de Aimarak, a Alícia, irmã mais velha do José Lourenço, e a Dirse, também uma das minhas irmãs mais velhas, decidiram ir a pé a vila de Laclúbar a fim de comprar legumes no mercado e apanhar diretamente o microlete, um transporte público local, reservando um assento ao José Lourenço. Apanharam então o microlete Galileia que transportava muitos passageiros.
O José Lourenço, era meu melhor companheiro da infância. Andávamos sempre juntos. Já no cume de uma colina, que fica ao lado do cruzamento de Aimarak, nós dois combinámos secretamente para eu também poder ir com eles a Manatuto. A Nélia não sabia da nossa combinação. Assim que vier o microlete Galileia, que a Alícia e a Dirse tinham já apanhado, o José Lourenço entrou e sentou-se na cadeira reservada. Ao arrancar o microlete, ele, José Lourenço, convidou-me por aceno. Com roupas sujas, eu entrei e sentei-me escondidamente ao lado da porta do microlete. A Alícia e a Dirse só me viram dentro do microlete quando já estávamos no meio da viagem. Ficaram furiosas mas calaram-se. Chegámos em Manatuto vila e ficámos lá umas semanas.
Depois de passaram alguns dias, houve uma manifestação por parte dos jovens da pró-independência contra o Governo indonésio (Pemerintah Kabupaten / Governo Distrital). Essa manifestação resultou um confronto entre os militares indonésios e aqueles jovens pró-independentes. Nós estávamos na nossa casa em Dolok e não sabíamos do confronto.
Bairro da Guarda Iliheu, Manatuto
Mais tarde, já no fim do dia, eu, José Lourenço, Alícia e Dirse saímos de casa passando pela rua de Hatu-Nesun. Inesperadamente, houve uns tiroteios em frente da residência do Administrador (Bupati) Vidal localizada no bairro de Guarda Iliheu. Em pânico, voltámos para casa. Os jovens fugiram e logo a segui chegaram esbaforidamente, entrando em nossa casa, pois foram perseguidos pelos militares indonésios. O Abel Soares, de cabelo comprido, um jovem da nossa aldeia Calohan, fingiu estar doente perante os militares indonésios, dormindo, cobrindo-se com um lençol branco. Enfim, os militares foram enganados por ele e pela Alícia e Dirse. Enquanto os outros três jovens provindos de Natarbora esconderam-se, num quarto, respetivamente, debaixo de uma cama e dentro de um guarda-roupas na casa onde nós tínhamos residido. Aqueles bapas (durante a ocupação, o bapa referia-se aos militares indonésios) entraram ao quarto e arrastaram-nos para fora. Foram então capturados e levados ao Kodim (Komando Distrik Militer = Comando Militar do Distrito).
Por: Francisco de Araújo
Obrigado Projeto @camoes pelo comentário! Abraço desde Díli, Timor-Leste!