Teses de Mário Ferreira
Pequeno resumo das primeiras quatro teses apresentadas no tomo I do livro Filosofia Concreta, de Mário Ferreira dos Santos. O autor busca, com a obra, formar juízos absolutamente válidos (apodíticos) no qual possa se firmar a Filosofia e, assim, alcançar ela um maior progresso e servir de base inabalável para o conhecimento humano.
Há um enunciado certo, evidente, que independe de nós: "alguma coisa há".
Por mais que não surgisse o homem, ainda assim seria certo que alguma coisa há, pois, do contrário, teríamos o nada absoluto, a ausência total de qualquer coisa.
Ora, podemos ser até uma ilusão de algum ser, podemos duvidar de nossa existência, mas a própria dúvida evidencia que alguma coisa duvida.
Ou alguma coisa há, ou temos o nada absoluto.
Portanto, pelo mero de fato algo pensar, é impossível haver o nada absoluto, pois, do contrário, entraríamos numa contradição em termos, pois o nada é justamente a ausência de positividade.
Tese 1 — Alguma coisa há, e o nada absoluto não há.
Tese 2 — O nada absoluto, por ser impossível, nada pode.
O nada absoluto seria a total e absoluta ausência de ser, de poder, visto que o que nada é, nada pode e, para poder, é necessário ser alguma coisa.
E, se porventura o "nada absoluto" pudesse algo, seria alguma coisa, entretanto, por nada ser, nada podemos esperar que dele provenha.
Tese 3 — Prova-se mostrando e não só demonstrando.
O conceito de demonstração (de-monstrare) implica o conceito de mostrar algo para tornar evidente outra proposição, quando comparada com a primeira.
A demonstração exige, portanto, o termo médio. Mas, como não podemos continuar indefinidamente deste modo, é necessário haver algo do qual parta toda demonstração e a primeira certeza apenas poderia seria mostrada, visto que é dela que partem todas as proposições.
O axioma alguma coisa há é evidente de per si, e mostra a sua validez de per si, sendo algo extra mentis (fora da nossa mente).
Tese 4 — A demonstração exige o termo médio; a mostração, entretanto, não o exige.
Me lembrei da frase de Descartes: ''Penso, logo existo''
Acho que se encaixa bem aqui.
Parabéns, belo texto
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Bonita reflexão! Faz falta ler algo assim na correria do dia a dia.
Se comento, logo existo. Ou se existo comento?
Muitos frases traçam armadilhas para si mesmas, como:
Tudo veio do nada, mas o nada não? kkkkk
Penso da seguinte forma:
O preto é a ausência de todas as cores
O branco é a presença de todas as cores
Quem pintou esta aquarela?
Pensar com ferramentas limitadas de percepção e de aquisição existencial é limitado. Precisamos da presença suprema se fazer presente em nós para podermos completar nossas limitadas ferramentas analíticas da realidade e do existir!
Uma testemunha da existência testifica do que viu existir. Do contrário, serão meras partes limitadas que não podem testemunhar do que não presenciaram: a existência das outras partes.
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Lembrei-me daquela clássica, mas nonsense, "não existem verdades absolutas"...
O problema é que se porventura tal frase fosse verdade, ela se contradiria a si mesma, isto é, seria falsa.
Por isto nem faz sentido dizer que "não existem verdades absolutas", no sentido de haver uma verdade que seja universalmente válida.
Abraços!
Super interessante, na verdade nunca ouvi falar dele... senti um tom esperançoso... me parece um positivista de alguma forma. Põem as datas, (vida e morte, ou publicação da tese se desejar) assim consigo me situar melhor. Parabéns pela postagem, outra coisa que n entendi, o termo médio seria mostrar? Parabéns mais uma vez e sucesso, me deixou em parafusos aqui kkkkkkk
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Bom dia!
As "teses" estão publicadas em dois volumes, no livro chamado "Filosofia Concreta" (1959). Nestes dois volumes, o autor desenvolve proposições (denominadas "teses", por ele).
Quanto ao positivismo, realmente não posso afirmar, visto que não possuo capacidade para tanto.
O termo médio é uma proposição que fica entre duas: a "mostração" e a conclusão (o demonstrado).
É que nem o velho silogismo:
P1: Todo homem é mortal;
P2: Sócrates é homem;
C: Logo, Sócrates é mortal.
Enquanto que a mostração, em si, nem precisaria de duas premissas.
Na mostração, se negássemos, por exemplo, que "alguma coisa há", cairíamos automaticamente no absurdo.
Abraços.
Para maior proveito, vou passar literalmente o que está no livro:
"Tese 3 - Prova-se mostrando e não só demonstrando."
O conceito de demonstração (de-monstrare) implica o conceito de mostrar algo para tornar evidente outra proposição, quando comparada com a primeira.
A primeira certeza tem naturalmente de ser mostrada, já que a demonstração exige algo já dado como absolutamente certo. Para provar-se a validez de algo, basta, assim, a mostra, que inclui os três elementos imprescindíveis para a certeza. O axioma alguma coisa há é evidente de per si, e mostra a sua validez de per si, independente da esquemática humana, pois esta pode variar, podem variar os conteúdos da esquemática humana, mas que alguma coisa há é evidente para nós, e extra mentis (fora da nossa mente)."
Esta é a tese 4:
Agora sim, hehehe. O termos filosóficos muitas vezes me dão um nó na cabeça, é um assunto que gosto muito, lendo devagar, refletindo cada palavra chego lá... obrigado pelo esclarecimento aqui nos comentários!
Mas é assim mesmo kkkk
Às vezes é necessário ler 5 vezes para entender.
Abraços!