O Convento da Madre de Deus da Verderena (PT)

in Tertúlia Portuguesa2 days ago (edited)

As fotografias são da minha autoria. O texto, tem origem na informação relativa ao Convento, que fica na cidade do Barreiro, na Margem Sul do Rio Tejo, frente a Lisboa.

( Imagem: Brasão de Armas da Família Azambuja/Vasconcellos )

A construção do Convento da Madre de Deus da Verderena, também conhecido por Mosteiro da Verderena, o décimo sétimo da Província de Santa Maria da Arrábida, teve o seu início formal a 18 de dezembro de 1591, dia consagrado pela Igreja Católica à expectação do parto de Nossa Senhora e daí a designação do orago: Nossa Senhora da Madre de Deus.

( Imagem: Pórtico da Entrada )

O edifício só ficaria concluído 18 anos depois, em 1609. A fundadora do Convento, Dona Francisca de Azambuja, descendia de uma das mais ilustres famílias barreirenses, cujas referências datam de finais do século XV.

( Imagem: Possível Imagem de S. Pedro de Alcântara, descoberta durante as obras de recuperação )

Com a morte de seu marido, Álvaro Mendes de Vasconcelos, na batalha de Alcácer Quibir, Dona Francisca, que não voltou a casar nem teve descendentes, dedicou parte importante da sua vida e fortuna pessoal, a uma obra com a qual deixaria o seu nome ligado à história do Barreiro: o Convento da Verderena.

( Imagem: Entrada e acesso à Biblioteca da UTIB -Universidade da Terceira Idade do Barreiro )

Com a sua construção pretendeu-se a substituição do Convento de Nossa Senhora dos Prazeres em Palhais, fundado em 1549 por S. Pedro de Alcântara. Este situava-se num local muito sezonático, junto ao esteiro do Rio Coina, e por isso decidiu o Provincial da Ordem que o mesmo seria demolido e reedificado em local mais aprazível.

( Imagem: Vista da Igreja principal, a decorrer, o ensaio para os Fados do Dia do Guitarrista )

Esta pretensão não agradou à população de Palhais, que impediu a destruição do imóvel. Contudo, a decisão de construir um novo Convento para os Franciscanos Arrábidos já havia sido abraçada por Dona Francisca, comprometendo-se a custear todas as despesas da construção. O terreno foi doado por duas senhoras barreirenses, Luísa e Brites de Faria.

( Imagem: Vista Parcial do Claustro do Convento )

A tipologia deste Convento inseria-se perfeitamente no contexto das edificações dos Franciscanos Arrábidos, cujo rigor imposto pelos Estatutos da Província, enunciavam com precisão e minúcia, todas as características arquitetónicas que as mesmas deveriam possuir, que privilegiavam as fórmulas de simplicidade e austeridade, procurando conciliá-las com soluções utilitárias e económicas. O Convento primitivo, todo em piso térreo, apresentava a Igreja Conventual, a Sacristia, a Sala do Capítulo, Casa de Profundis, Dormitórios, Refeitório, Casa da Livraria e Casa das Barbas.

( Imagem: Uma Vista Exterior )

Ao longo dos séculos, o edifício sofreu profundas alterações que lhe modificaram, sensivelmente, a fisionomia.

Do convento concluído nos primeiros anos do Século XVII, poucos são os elementos presentes, para além do pórtico da fachada Sul; entrada principal do estabelecimento; algumas cantarias (porta de acesso ao coro alto e outra para o exterior da cela), e um conjunto bastante variado de fragmentos azulejísticos, bem representativos deste período.

No início do Século XVIII, o edifício conventual foi todo remodelado por D. João António de La Concha, Contratador Geral do Tabaco, nos anos de 1707/1708, construindo-se então a Capela do Senhor dos Passos ou Capela pequena, como ficou conhecida. Após a extinção das Ordens Religiosas, ocorrida em 1834.

( Imagem: Uma Vista da Capela Pequena )

O Convento foi integrado nos Bens Nacionais e, depois de ter ido à praça por três vezes, foi arrematado em hasta pública em 1843, pelo Conselheiro Joaquim José de Araújo, por 965$00. Muitos dos elementos do formulário decorativo religioso são «mascarados» e emparedados por forma a secularizar o antigo edifício monástico, e o convento é então adaptado a palacete, de modo a corresponder às suas novas funções: residência e veraneio.

O imóvel manteve-se na posse desta família até ao princípio do Século XX, transitando então, para Guilherme Nicola Covacich, industrial têxtil barreirense.

Em 1969, o Convento da Madre de Deus da Verderena é adquirido pelo Município do Barreiro, já em estado de degradação. Depois de 25 de abril de 1974, o Convento é utilizado para atividades de índole cultural.

( Imagem: Esta Segunda-Feira, dia 10, entre as 15h e as 16.30h, há Fado, para comemorar o Dia do Guitarrista. A Entrada é Livre. )

Em 1995, a Câmara Municipal do Barreiro delibera a aprovação de obras de remodelação do Convento e integração paisagística dos terrenos circundantes, com vista à instalação no local de um espaço de múltiplas valências culturais. O projeto de restauro e recuperação do Convento da Madre de Deus da Verderena teve em consideração duas preocupações prioritárias – recuperar o traçado original do edifício e adaptá-lo a novas funcionalidades. Desse modo, procurou-se criar um espaço aberto e dinâmico onde se cruzam as atividades culturais, a informação e o lazer, tendo sido totalmente restaurado e reequipado, e abrindo ao público em 1997.

No Auditório, antiga Capela, realizam-se conferências, reuniões, espetáculos, exposições, etc., o antigo refeitório dos monges é agora um snack-bar e no exterior, os jardins convidam ao encontro, conversa e lazer.

Foi classificado como Monumento de Interesse Municipal a 30 de abril de 1999.

( Imagem: Um fabuloso painel de azulejo Seiscentista )

Quem quiser, pode visitar este Convento. Eu tive uma visita guiada extremamente interessante, orientada pelo Dr. Gonçalo Graça, que é o Historiador residente. Para tal, basta fazer a marcação prévia, através do número +351 212 068 654.

@hefestus 08.03.25

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Excelente recomendação :) Abraço.