[CRÔNICA] Um texto sobre o início do fim de meu mundo

Spencer Hickman

Pressinto o dia do fim do mundo se aproximando, mas não sou Donnie Darko. Queria eu ter 28 dias, 06 horas, 42 minutos e 12 segundos. A minha história não tem homem usando fantasia de coelho, mas muitas pessoas usam máscaras nela. Cada um fingindo e interpretando papéis que não condizem com a realidade e parecem não ter problemas com isso.

O texto parece trágico como os de Bukowski, mas não é banhado por bebida alcoólica ou obstruído pela fumaça de um cigarro. Sinceramente, a única semelhança é a sinceridade e a descrição da vida sem embelezamentos desnecessários. A falsidade nos distrai e inebria. Busque a sinceridade, mesmo que pareça menos atraente.

Eu quase esqueci que estava falando do fim do mundo. Não se preocupe, nada acontecerá contigo. É o meu mundo que está prestes a acabar. Não de uma maneira horrível, com dores e lamentos, mas gloriosa e honrada. Estou prestes a dizer as palavras que acabam com um mundo e criam outro: o "eu te amo".

Não chore por mim, caro(a) leitor(a). Se tudo der certo, não serei mutilado por minhas próprias palavras. Na pior das hipóteses, o silêncio constrangedor. Entenda aqui que não espero ser correspondido ou louvado pelo meu sentimento. Eu não espero nada e o amor significa exatamente isso. Talvez o amor signifique muito mais coisas do que eu possa compreender e espero que essa declaração me revele outra fração do maior enigma da humanidade.

Essa minha mania de tentar entender coisas incompreensíveis é que me trouxe até aqui, em frente a esse espelho. São palavras difíceis de dizer, confesso. Eu sei que o cara do outro lado tem imensas qualidades e anda sobre meus pés todos os dias, mas engasgo depois da primeira palavra. Ele me encoraja, tentando falar junto comigo e também falhando. Rimos da sincronia de nossas ações e tentamos novamente. Dessa vez, as três palavras saem extremamente audíveis de mim, mas dele recebo apenas um mexer de boca.

É o suficiente para mim. Eu me amo e é recíproco. A morte do mundo antigo dá lugar ao recém-nascido novo mundo. Me despeço do "eu reflexo", vou deitar e ele faz o mesmo. Tudo mudou. Foi do melancólico ao alegre e nem eu esperava por isso. Sinto que terei sorte com esse novo relacionamento. Finalizo citando Oscar Wilde a história que tinha tudo para ter um final triste, como de costume, mas não teve:

"Amar a si mesmo é o começo de um romance para toda a vida."