O que fazer em 2021

in #brasil4 years ago

Passadas as festas aglomerativas, faço finalmente meu texto de Ano Novo, porque não gastaria os dias de São Silvestre e de Santa Maria Mãe de Deus com o celular na mão olhando para vossos avatares ao invés de curtir a família. Vamos lá:
2021 é Ano de São José, modelo bíblico do pai amoroso, do trabalhador, do homem de família e de quem tira sua força do silêncio. Curioso como quase tudo o que pensava sobre 2021 envolve isso, antes mesmo de descobrir a quem o ano seria consagrado.
Concordo com meu amigo Taiguara Fernandes de Sousa: evite fazer resoluções de Ano Novo desta feita. Adiciono: Satisfaça as resoluções dos que te amam e dependem de você. Já pensou que muitos dos planos de pessoas ao seu redor fracassaram por SUA culpa, este peso de papel morto e espaçoso na vida de tantos? Pois então, hora de ser um burro de carga melhor (até para agüentar mais carga).
Ideologias revolucionárias modernistas (liberalismo incluso) crêem que basta satisfazer instintos mais baixos do homem para a sociedade, como dizem, “funcionar”. O modelo de sociedades tradicionais, orgânicas e harmônicas é a busca do mais elevado de cada um – e ninguém pode fazer isso sozinho. Precisamos servir aos outros, não ao nosso ego.
Coragem, dever, honra, retidão, ciência, justiça, sacrifício: nada disso sequer EXISTE se você apenas busca se satisfazer, ainda com a desculpa do “social” ou mesmo da “liberdade individual” como crêem revolucionários modernetes. Minha luta quixotesca para termos um Rei Arthur no século XXI prossegue.
Para ser melhor, tenha uma agenda. Aprenda algo. Mude de assunto. Seja admirável e admirado (inclusive secretamente por seus inimigos).
Sabe qual a diferença entre quem lê 100 livros por ano, faz 300 flexões, fala 7 línguas, resolve equações diferenciais e um encostado inútil como você? Os primeiros tinham um objetivo e criaram uma rotina para atingi-los. Tinham uma agenda, e eram obedientes a quem eles seriam no futuro, regrando quem eles são agora – enquanto você fica sacando o celular e vendo o que estão falando e tentando se atualizar de todos os memes. Se você só segue feeds de redes sociais e aparentes questões urgentes surgidas nas notificações do seu celular, numa passividade anti-viril absoluta, você terminará esse ano sendo este mesmo micróbio que você é agora. Péssima perspectiva. Ninguém quer ser como você.
E ser melhor é sair do seu estado atual. Adeus, você! Para ter hábitos novos (a coisa mais difícil de se mudar no ser humano) é preciso abandonar os atuais. Esqueça sua atual vida lixo. Sua nova rotina envolve mudar de assunto: falar do livro que acabou de ler, sobre um tema que nunca estudou, e não ser o cara chato que sempre fala da mesma coisa quando abre a boca (lá vem o primo chato que acha que tudo é política e cita sempre a mesma ladainha!).
Aprenda algo diferente. Tem de começar hoje (não existe “amanhã”, não existe “se”). Quem tem feito algo por esse país não são as pessoas falando de “-ismos” dentro de bolhas virtuais, não são pentelhos zerando o Antagonista e lendo 200 títulos de notícias por dia: são as pessoas que sabem algo que até os inimigos delas queriam saber. É o povo do fitness, da culinária, da nutrição, da educação (com nosso sistema educacional, todos querem aprender de verdade o que não aprenderam na escola e faculdade), da auto-organização, da produtividade, da psicologia, da religião. Já teria perdido completamente a esperança no país se não fossem por estes heróis.
Aprenda algo e ensine – seja alfabetização ou dicas de carros, seja gramática latina ou usar o Evernote. Pare de falar de política e comentar notícias (eu já sei o que você vai dizer, seus amigos já sabem, quem tinha que mudar de idéia já mudou). Me ensine sobre low carb ou muay thai, algoritmos ou design – seus bordões sobre Brasília eu já sei de cor.
Eduque sua imaginação. Você sabe de todas as fofocas das celebridades? Ótimo que desconhece 20%. Mas acompanhou todas as tretas do Dex, e sabe o que raios é “direita olho verde” ou “burra” ou sei lá o quê? Então já tá no mau caminho. Qual a diferença disso pra saber quem o ator da Globo pegou na balada? Imagine as fofocas do século VI. São interessantes? Ou é melhor ler sobre teoria do conhecimento? É como você verá sua vida em looping da Eternidade daqui a 16 séculos, num vácuo sugando sua alma.
Monte clube do livro com seus amigos. Veja o Zap no máximo a cada 3 horas. Conversa na internet não é estudo e nem trabalho. Seja ativo, não consuma informação passivamente (ruído, na verdade). Quando for conversar (aliás, converse menos), discuta livros, ficção, autores, idéias – não o que viu na internet e as últimas desimportâncias de sua vidinha. Todo mundo te acha um porre, brother.
Só assim algum dia teremos um debate acadêmico de alto nível. Aliás, first things first: precisamos primeiro ter uma limpeza de celebridades (incluindo celebridades virtuais e celebridades relativas, como o Júnior, “o da Sandy”), criar até conteúdo de entretenimento decente para nossos filhos verem. Não adianta falar de cada pum dado na Câmara: o que importa é que gente decente fale sobre Batman e Xbox para as crianças, de vocação, namoro e maturidade enquanto comenta futebol, jiu-jitsu e cultura pop para os adolescentes. Estou mais preocupado com dragões e fadas do que com bandidos de terno. Depois poderemos falar de Scott Hahn, Thaddeus Kozinski e Jacob Howland na Academia, no lugar desses falsários e prestidigitadores que habitam por lá.
Faça um detox virtual. Isso é o mais importante no ano em que ser dono de Big Tech significa determinar o que é verdade. Old habits die hard, eu sei, doeu para mim, ainda dói. Mas largue o máximo que puder disso. Leia “Minimalismo Digital”, do Cal Newport (compre pelo link: https://amzn.to/3rPHBYRou https://livraria.sensoincomum.org/minimalismo-digital), e você descobrirá como vício em pegar o celular e ver likes e tweets a cada 5 minutos é MAIS DIFÍCIL de largar do que CRACK. Repare como você e 99% dos seus amigos estão viciados em atualizações de dopamina e pseudo-informação a cada 15 segundos. Nunca estudarão, nunca criarão algo, nunca levantarão 100 kg no bench press, nunca farão um bife Wellington assim.
Hoje os livros falam de produtividade (nosso trabalho é cada vez mais teatral e menos factual). De foco (veja rede social poucas vezes por dia, pare de responder cada comentário, ou você será PIOR do que a velha fofoqueira que passa o dia na janela da rua). Uns neomísticos de terno e tênis falam em “mindfullness”. Uma luta para cultivar bons hábitos, boa alimentação, bons pensamentos. Fazer algo de sua miserável passagem por este Vale de Lágrimas.
Isto tudo é só porque você não lê os clássicos. Empresário só lê livro facinho de administração, ao invés de livro com mais de mil anos – livro que importa. Estoicismo voltou à moda, e tem alguma razão: Marco Aurélio e Sêneca cuidariam dos problemas modernos com mais eficiência do que 5 mil coachs. Imagine, então, uma figura como São José, com seu labor silencioso. Seja mais silencioso. Aprenda a usar a técnica Pomodoro (25 minutos de foco, 5 minutos de descanso). 8 horas seguidas é invenção braçal da Revolução Industrial. Em época de home office e pandemia, dá pra aprender uma língua, secar a barriga, aprender um instrumento ou terminar Proust até o final do ano.
Veja coisas bonitas. Compartilhe uma peça de arte todo dia. Siga perfis de arte. Leia poesia. Não adianta “defender o Ocidente e a alta cultura” e passar o dia lendo sobre o Maia, que ninguém saberá quem é em 5 anos (você se lembra de quem é Waldir Maranhão, Marco Maia, Efraim Moraes e Severino Cavalcanti?). São José era um carpinteiro. Arte e muito suor. É isto o que importa.
Citarei algumas das pessoas que você pode seguir nos poucos momentos de rede social para reeducar sua imaginação: Aline Brodbeck, Ana Paula Souza (pur.ana), Caio Perozzo, Camila Abadie, Carlos de Freitas, Clara Finotti, Cláudia Piovezan, Clístenes Hafner, Edmilson Cruz, Eduardo Perez, Filipe Altamir, Filipe Trielli, Gustavo Abadie, Karen Mortean, Kim Zucatelli, Laís Honório, Leonardo Trielli, Lorena Cutlak, Lourival Souza, Lucas Maia Maciel, Luciana Lachance, Ludmila Lins Grilo, Marcela Saint Martin, Mateus Mota Lima, Miguel Soriani, Pedro Augusto, Rafael Brodbeck, Rafael Nogueira, Raul Martins, Olinda Scalabrin, Rodrigo Gurgel, Sabryna Thais, Taiguara Fernandes, Thomas Giuliano, Tiba Camargos, Waleska Montenegro. Páginas como A Formação do Imaginário, Aprendendo Latim Serviam, Camada 4, Contra os Acadêmicos, Educar Para o Céu, Fundação Virtus, Infância Bem Cuidada, Instituto Borborema, Instituto Dom Literário, Instituto Hugo de São Vítor, O Homem Católico, O Novo Mercado, além, obviamente, do Brasil Paralelo [https://go.brasilparalelo.com.br/.../senso-incomum...] podem cuidar de te ajudar a ficar mais inteligente e perder amigos enquanto eu estiver ocupado, sem ficar falando de política. Para quem lê inglês, não deixe de seguir The Art of Manliness, The Imaginative Conservative, Jack Donovan, Ryan Holiday, Ryan Michler e seu Order of Man. Farei as devidas atualizações.
Todos ou quase somos alunos de Olavo de Carvalho, o grande professor de sabedoria, e não de burocracia travestida de educação, no Brasil. Não há palavras para dizer o quanto sou agradecido ao maior filósofo vivo do hemisfério. Porém, se me permite, gostaria de ver menos o nosso Olavo falando de militância, dando bola para uma súcia que vive de lhe dar bajulação (e, logo depois, facadas nas costas) em troca de aparecer às custas de sua sabedoria, comentando notícias inúteis que o professor só conhece filtradas pelos panacões incultos que moram em sua caixa de comentários (NENHUM é seu aluno, NENHUM levou sua obra a outro patamar). Pode largar esses vídeos toscos pra lá, nós sentimos falta de filosofia (nem o Brasil Sem Medo vemos em sua página!).
Há problemas MUNDIAIS que só o Olavo pode resolver – a relação da escola tradicionalista com a geopolítica russa, os elementos de gnose no globalismo, a confusão lingüística do estruturalismo ao não incluir a realidade no seu conceito de signo etc etc. isto nos faz falta – modéstia à parte, nós, seus melhores alunos (não, não são os sanguessugas te enviando notícias o dia inteiro).
O personagem meio Alborghetti foi muito útil num podcast obscuro no começo dos anos 2000. Agora, os holofotes do mundo estão sobre nós: precisamos mostrar nosso arcabouço de erudição e deixar as querelas inúteis com personagens apatetados para o passado distante. Não adianta mais só gritar: precisamos mostrar nossa erudição, nossa capacidade de sermos melhores. Deixamos de ser pedrada para sermos vidraça. Mostremos, afinal, que somos inquebráveis.
O Facebook também é um péssimo meio para fazer uma idiossincrasia que é um oxímoro: o “rascunho público”. Está sendo estupidamente fácil para a mídia (até para umas bactérias como youtuber de cabelo colorido que faz piada com sexo com adolescente em livro) bater no Olavo xingando o STF e falando palavrões sobre fatos ainda confusos sobre o mundo. É rigorosamente impossível para os mesmos enfrentar o mesmo Olavo falando sobre o gnosticismo para Schelling ou sua crítica ao princípio unificador de René Guénon (que tanto encanta a direita americana). Imagine os cursos sobre Louis Lavelle e Mário Ferreira dos Santos. Quero ver mais jornalista fugindo esbaforido do Olavo. É meu desejo.
De minha parte, estarei cuidando para ser alguém melhor. E escrevendo sobre coisas mais elevadas do que notícias. Projetos de longo prazo estão no forno, e exigem dedicação disciplinada. Coisas que envolvem a imaginação, não os feeds. Quem quiser militância e ativismo, pode ir procurar sua turma – ela não é minha. Somos personas nessa rede. Mas não podemos deixar que essas personas sufoquem nosso ser, aquilo para o qual fomos construídos – pessoas muito mais elevadas do que somos.
Feliz 2021 a todos!

Flavio Morgenstern

Extraído daqui: https://www.facebook.com/flaviomorg/posts/238591660962598

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