#BIBLIOTECA# - "Il Divoratore" | "O Devorador" (2009)

in #biblioteca7 years ago (edited)

Escrito por Lorenza Ghinelli, o livro narra a inquietante história que mescla o destino de dois garotos distintos: Denny e Pietro. O primeiro tem sete anos, mora com um pai esquizofrênico e alcoólatra, uma mãe dependente química e além disso, é constantemente maltratado pelos colegas. O segundo tem quatorze anos, autista, ele tem um talento nato para o desenho (fazendo dessa maneira a sua única forma de se comunicar).

Denny tenta superar a falta do amor da família e o medo que vivencia todos os dias, ele inventa história delirantes e o seu único amigo é um velho mendigo que se autodenomina "homem dos sonhos", que sempre o protege quando necessário. Pietro tem ao seu lado uma fiel cuidadora chamada Alice, a única que acredita nele quando o garoto diz ser a única testemunha do desaparecimento de 4 meninos.

O que há de incomum nas duas histórias? Só lendo O Devorador para saber.

Fonte: Divulgação (QLibri)

Uma mistura de suspense e horror sobrenatural se expande pela escrita de Ghinelli, que através de um olhar relativamente inovador, mescla dois núcleos aparentemente distintos de uma maneira não muito utilizada nesses gêneros literários que ela aborda de maneira enfática. Isso seria motivo o suficiente para criar uma experiência muito boa para o leitor, mas infelizmente as coisas não são bem assim.

Optando por narrativas de acontecimentos mais rápidos, o leitor não encontra tempo de poder mergulhar nas histórias e se sentir desafiado a desvendar o mistério (porque constantemente a escritora tenta fazer esse trabalho de forma excessiva, anulando uma boa parte do interesse de quem está lendo o livro). Dessa forma, o clima angustiante no qual a história é criada, acaba perdendo muito da sua potência, que aliás tem um ótimo trunfo nas mãos: misturar a realidade com a ficção ao ponto de não se ter certeza sobre a distinção dos acontecimentos.

Acredito que o maior erro desse livro é que o desenvolvimento de tudo é muito raso. Sejam a narrativa em si, os personagens, os cenários... Nada realmente fica na mente do leitor de forma fixa, e nem mesmo a maneira diferenciada como o livro é escrito (que por sinal, é simples e sem maiores melismas literários) consegue melhorar isso, porque a ousadia de apresentar uma perspectiva diferentes aos fatos, acabou se perdendo em vários trechos desconexos com parágrafos muito pequenos (que não se aprofundam no que está sendo contado... minando a mente do leitor), deixando o desenrolar da trama cada vez mais frio e desinteressante.

Os momentos bons existem e há algumas cenas de suspense que prendem a atenção. No entanto, é tudo muito passageiro e o público não tem tempo de se envolver com o que está lendo. Personagens irrisórios (onde nenhum deles é capaz de segurar a própria essência) para uma trama que tem um ar complexo perdem-se em diversos acontecimentos não finalizados e por mais que haja uma o esforço em escrever algo mais dinâmico, o livro vai se arrastando como um filme que poderia ter sido bom (ou até ótimo), mas é termina sendo mal dirigido.

Há muita mistura de arcos dramáticos que não se encaixam e permanecendo-se desconexos, bagunçam ainda mais uma narrativa que não já se sustenta muito bem por conta própria. A insistência da escritora em criar situações inconclusivas chega - em certos momentos - a se tornar algo irritante, porque ela tenta demonstrar um ar de novidade que na verdade, de novo não tem nada e ainda que consiga um bom resultado aqui e ali (vale ressaltar que são bem poucos), o resultado final do livro não é nada menos do que uma experiência enfadonha e que carece de bastantes melhorias para se tornar um exemplar que possa ser indicado.